Quinta-feira, 31 de Julho de 2008
Da minha janela
Mar alto! Ondas quebradas e vencidas
Num soluçar aflito e murmurado...
Ovo de gaivotas, leve, imaculado,
Como neves nos píncaros nascidas!
Sol! Ave a tombar, asas já feridas,
Batendo ainda num arfar pausado...
Ó meu doce poente torturado
Rezo-te em mim, chorando, mãos erguidas!
Meu verso de Samain cheio de graça,
Inda não és clarão já és luar
Como branco lilás que se desfaça!
Amor! teu coração trago-o no peito...
Pulsa dentro de mim como este mar
Num beijo eterno, assim, nunca desfeito!...
(Florbela Espanca)
Da minha janela
Mar alto! Ondas quebradas e vencidas
Num soluçar aflito e murmurado...
Ovo de gaivotas, leve, imaculado,
Como neves nos píncaros nascidas!
Sol! Ave a tombar, asas já feridas,
Batendo ainda num arfar pausado...
Ó meu doce poente torturado
Rezo-te em mim, chorando, mãos erguidas!
Meu verso de Samain cheio de graça,
Inda não és clarão já és luar
Como branco lilás que se desfaça!
Amor! teu coração trago-o no peito...
Pulsa dentro de mim como este mar
Num beijo eterno, assim, nunca desfeito!...
(Florbela Espanca)
As sem-razões do amor
Eu te amo porque te amo. Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça E com amor não se paga.
Amor é dado de graça, É semeado no vento,
Na cachoeira no eclipse. Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários. Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim. Porque amor não se troca,
Nem se conjuga nem se ama. Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo. Amor é primo da morte,
E da morte vencedor, Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.
Carlos Drummond de Andrade
As sem-razões do amor
Eu te amo porque te amo. Não precisas ser amante,
E nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça E com amor não se paga.
Amor é dado de graça, É semeado no vento,
Na cachoeira no eclipse. Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários. Eu te amo porque não amo
Bastante ou demais a mim. Porque amor não se troca,
Nem se conjuga nem se ama. Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo. Amor é primo da morte,
E da morte vencedor, Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.
Carlos Drummond de Andrade
Sexta-feira, 25 de Julho de 2008
naquela mesa ele sentava sempre
e me dizia sempre o que é viver melhor
naquela mesa ele contava histórias
que hoje na memória eu guardo e sei de cor
naquela mesa ele juntava gente
e contava contente o que fez de manhã
e nos seus olhos era tanto brilho
que mais que seu filho
eu fiquei seu fã
eu não sabia que doía tanto
uma mesa num canto, uma casa e um jardim
se eu soubesse o quanto dói a vida
essa dor tão doída, não doía assim
agora resta uma mesa na sala
e hoje ninguém mais fala do seu bandolim
naquela mesa ta faltando ele
e a saudade dele ta doendo em mim
naquela mesa ta faltando ele
naquela mesa ele sentava sempre
e me dizia sempre o que é viver melhor
naquela mesa ele contava histórias
que hoje na memória eu guardo e sei de cor
naquela mesa ele juntava gente
e contava contente o que fez de manhã
e nos seus olhos era tanto brilho
que mais que seu filho
eu fiquei seu fã
eu não sabia que doía tanto
uma mesa num canto, uma casa e um jardim
se eu soubesse o quanto dói a vida
essa dor tão doída, não doía assim
agora resta uma mesa na sala
e hoje ninguém mais fala do seu bandolim
naquela mesa ta faltando ele
e a saudade dele ta doendo em mim
naquela mesa ta faltando ele
Quinta-feira, 24 de Julho de 2008
Oh! tristeza me desculpe
Estou de malas prontas
Hoje a poesia
Veio ao meu encontro
Já raiou o dia
Vamos viajar.
Vamos indo de carona
Na garupa leve
Do vento macio
Que vem caminhando
Desde muito longe
Lá do fim do mar.
Vamos visitar a estrela
Da manhã raiada
Que pensei perdida,
Pela madrugada
Mas que vai escondida
Querendo brincar.
Senta nessa nuvem clara,
Minha poesia,
Anda se prepara,
Traz uma cantiga
Vamos espalhando
Música no ar.
Olha quantas aves brancas,
Minha poesia
Dançam nossa valsa,
Pelo céu que o dia
Faz todo bordado
De raio de sol.
Oh! Poesia me ajude,
Vou colher avencas
Lírios, rosas, dálias
Pelos campos verdes
Que você batiza
De jardins do céu.
Mas pode ficar tranqüila,
Minha poesia,
Pois nós voltaremos
Numa estrela guia
Num clarão de lua
Quando serenar.
Ou talvez até quem sabe,
Nós só voltaremos
No cavalo baio
No alazão da noite
Cujo o nome é raio,
Raio de luar.
Oh! tristeza me desculpe
Estou de malas prontas
Hoje a poesia
Veio ao meu encontro
Já raiou o dia
Vamos viajar.
Vamos indo de carona
Na garupa leve
Do vento macio
Que vem caminhando
Desde muito longe
Lá do fim do mar.
Vamos visitar a estrela
Da manhã raiada
Que pensei perdida,
Pela madrugada
Mas que vai escondida
Querendo brincar.
Senta nessa nuvem clara,
Minha poesia,
Anda se prepara,
Traz uma cantiga
Vamos espalhando
Música no ar.
Olha quantas aves brancas,
Minha poesia
Dançam nossa valsa,
Pelo céu que o dia
Faz todo bordado
De raio de sol.
Oh! Poesia me ajude,
Vou colher avencas
Lírios, rosas, dálias
Pelos campos verdes
Que você batiza
De jardins do céu.
Mas pode ficar tranqüila,
Minha poesia,
Pois nós voltaremos
Numa estrela guia
Num clarão de lua
Quando serenar.
Ou talvez até quem sabe,
Nós só voltaremos
No cavalo baio
No alazão da noite
Cujo o nome é raio,
Raio de luar.